domingo, 27 de junho de 2010

Meus pais

Aqui na Itália, tudo é a minha mãe. No sul da Itália, particularmente.
As comidas, os exageros, o jeito gaiato. Coisas que eu não entendia, que escapavam do nosso desvio padrão cultural e, por isso, eu estranhava. Aqui, tudo isso é normal.
Tenho pensado muito nos meus pais. Primeiro, por razões óbvias: é impossível não lembrar da minha mãe estando na Puglia. Também porque a morte do meu pai ainda é um evento recente, que eu não consegui elaborar por completo.
Entendo melhor minha relação com eles... ou talvez, não os tendo mais por perto para influenciar minha interpretação, esteja fazendo um diagnóstico de tudo e rotulando à minha maneira. O fato é que percebo o quanto eles foram/são centrais dentro de mim. Cresci, me distanciei, fiz meu caminho, é claro. Mas acho que nunca me afastei da coisa mais importante que eles deixaram: estimular meus aprendizados. Nos momentos fáceis e nos difíceis. Tudo o que sou hoje veio disso, do que aprendi com eles e do que aprendi por causa deles.
Sou grata, infinitamente grata aos dois. Não sei se fui capaz de expressar isso convenientemente enquanto eles estavam vivos. Acho até que me esforcei, mas talvez não tenha sido suficiente. De qualquer jeito, sei que fiz aquilo que podia fazer. E eles também.
Hoje na missa rezei por eles, sempre rezo. Senti saudades... quis voltar no tempo, evitar todas as suas dores. Mas, coitada de mim... sou tão mortal quanto eles... tão impotente quanto eles... e um dia vou morrer como eles. Como é estranho, isso. A morte introduz uma percepção completamente estranha em nossa trajetória. Pensamos que somos imortais até sermos “atropelados” pela perda de alguém importante. Tudo muda depois disso. Entendemos até o fundo da alma que o tempo, que antes parecia infinito, tem prazo pra terminar.
Quando tive esta percepção, passei a tentar aproveitar ao máximo cada segundo de minha vida, não desperdiçando energia com o que não vale a pena. Acho mesmo que tenho conseguido garimpar, no meu repertório, apenas aquilo que compensa o investimento – pois tudo é investimento. Tudo o que a gente faz tem um preço e, de uma forma ou de outra, a gente paga. Nenhum episódio está a salvo de suas conseqüências... Mais um aprendizado que meus pais me proporcionaram.
Tenho sentido uma gratidão enorme por tê-los tido em minha vida. Esses momentos na Itália só fizeram aumentar este sentimento. Reconheço, em mim, o que veio deles e fico feliz com isso. Me entendo melhor. Me reconcilio com eles e comigo. Fico mais em paz. E mais uma vez agradeço a Deus por tudo o que me trouxe aqui e, especialmente, por eles.

2 comentários:

  1. querida
    outro texto lindo.Juro q qq dia faço seu livro.

    Queria estar aí te fazendo companhia, miga.
    Fique bem, viu? bjs

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