terça-feira, 29 de junho de 2010

Gallipoli

O Jônico tá quase roubando o lugar do Adriático no meu coração.
Hoje fui a Gallipoli. A tal outra cidade que fica na costa, é maiorzinha que Porto Cesáreo e tem mais opções de transporte pra chegar.
Fui pela STP, uma companhia de ônibus. Eu ia deixar o hotel nesta manhã, pois agora à noite to pegando o trem noturno pra Roma, onde desembarco e parto direto pra Assis (ufa!). Olhei os horários pra Gallipoli que fossem perto do meu check-out e vi que às 11:45 saía um ônibus. Fechei a conta do hotel, deixei a mala com eles e fui pro ponto, que eu pensava que fosse no mesmo lugar onde peguei a condução pra Porto Cesáreo.
Não era. Mais uma vez, ao perguntar a um grupo de motoristas pra onde eu deveria me dirigir, escutei a indefectível resposta: “É pertinho, basta dobrar a esquina”. Só que a esquina era lá na linha do horizonte.
Como eu tinha chegado em cima da hora, saí correndo para alcançar o bendito. Alcancei, com ele já saindo. Sempre os passeios “com emoção”...
Subi no ônibus suando em bicas. Hoje foi o dia mais quente aqui no Salento. Lá fomos nós, por uma estrada bem sinalizada, bem asfaltada e bastante bonita. Em uma hora já estávamos avistando a ilha de Gallipoli.
Tinha constatado, pela internet, que o ponto final era relativamente perto do centro histórico. Mas, de repente, o motorista parou num grande estacionamento, saltou um monte de gente, subiu outro monte e eu fiquei perdida, pois nem sequer avistava o casario antigo. Perguntei e ele confirmou que era a capolinea sim, se eu quisesse ficar em Gallipoli, deveria saltar. Tão tá.
Saltei e fiquei perdidona. Não tinha nada disso na internet.
Perguntei pra um camelô de frutas e ele veio novamente com a frase assustadora: “Você vai direto, sempre direto, e logo alcança o centro histórico”. Respirei fundo e peguei a direção indicada. Em matéria de tônus muscular, não há nada melhor para os membros inferiores do que uma visita à Itália...
Andei realmente muito, por uma rua que sequer tava no mapa, o Corso di Leuca. No fim dele, tem o Corso Roma, onde você começa a se aproximar da parte velha da cidade. To andando por ele e, de repente, à direita, vejo uma pracinha fofa. Parei pra olhar e enxerguei um predinho ao fundo com a seguinte placa: “Stazione”. Pô. Como assim? Estação de quê???
Era uma estação de trem. Sim, eu tinha entendido errado. Achava que mesmo a FSE (Ferrovie Del Sud Est) operava a linha Lecce-Gallipoli por meio de ônibus, mas não. Aquela pracinha era o tal ponto final que eu tinha visto na internet, mas ponto final da FSE (trem) e não da STP (ônibus). Muito mais perto do centro histórico. Entrei e comprei o bilhete pra voltar por ela.
Prossegui pelo Corso Roma em direção à ponte que liga a parte continental à ilha. Gallipoli começou pela ilha, onde fica a cidade velha. Na parte nova, o continente, ela é bem arrumadinha, tem bastante comércio, lojinhas legais. Mas estávamos na hora fantasma que, lá, é ainda pior: de uma às seis da tarde! Quê isso??? Como esse pessoal ganha dinheiro? Me explica que eu quero fazer igual.
Peguei a ponte e logo avistei uma marina. Grandinha, chegava a ser um porto. Olhei pro mar: era aquela cor de novo. Nunca vi fundo de mar em porto. Lá, eu vi.
Fui seguindo todo o perímetro da “orla”. Muuuuito fofa!!! O casario é de uma singeleza encantadora: tudo clarinho, a maior parte em branco. Diversas igrejas, uma muralha que cerca toda a costa e, depois dela, o verde azulado transparente que cativa as pupilas...
Pelo que percebi, a cidade velha só tem uma praia própria pra banho: a da “Purità”. Chama-se assim porque lá fica a igrejinha de mesmo nome, dedicada a Nossa Senhora.
Olhando a praia, pude entender o horário fantasma estendido. Aliás, o que não dá pra entender é como eles conseguem deixar aquele paraíso pra trabalhar. É um escândalo. Uma aberração. Quase uma afronta.
O Jônico de novo, transparente, raso e sossegado, sobre aquele fundo claro como o dia. Resultado disso é uma gigantesca piscina de criança a céu aberto.
Tirei um montão de fotos, mas infelizmente tive que “economizar”, pois a bateria tava descarregando. Depois de percorrer a muralha, entrei pelo emaranhado do borgo antico. Muito gracinha. Como Lecce, é um labirinto (nisso são diferentes de Polignano, cujo traçado é geométrico). Fui me perdendo nos becos salentinos.
Andei mais um tantão, até que cansei. Parecia que não agüentava dar sequer mais um passo. Vi uma gellateria e resolvi sentar numa mesinha na calçada, de frente pro azul. A atendente trouxe o cardápio com uma infinidade de sorvetes, iogurtes, granitas e por aí vai. Pedi um salgado, pra fazer as vezes de almoço (já eram umas cinco da tarde) e uma granita de figo (Gallipoli também tem um monte de figueiras na orla – cheiro bom....). Não tinha a fruta, mas ela me ofereceu figo da índia, que minha mãe adorava e chamava de “figo nino” (algo como “figuinho”, em português). Tinha zilhões de anos que não comia essa fruta. Gostoso. Mais pelo registro afetivo do que pelo sabor mesmo. :-)))
Quando acabei, tava perto da hora do trem. Dei mais umas andadas e voltei, pois tinha muito chão pela frente ainda.
Cheguei na estação e vi que ela era bem simplesinha. Pra vocês terem uma idéia, não tem passarela entre as plataformas, a gente tem que atravessar pela linha do trem mesmo. Fiquei meio nervosa com isso, mas são tão poucas as partidas diárias que não tem perigo. Tinha uns dois trenzinhos prontos pra sair, ambos suuuuuper básicos, pareciam maria-fumaça. Pensei: “cara, esse troço vai sacolejar pra caramba!”. Mas o trem pra Lecce é mais sofisticado. Arrumadinho, tem ar condicionado e tudo. Vem da metrópole, para na estação, dá uns quinze minutos e volta no sentido oposto. Quando ele estacionou, fui logo subindo pra descansar lá dentro, onde tava mais fresquinho.
Viemos por uma estrada muito gostosa, com o sol se pondo, as oliveiras plantadas na margem dos trilhos, fofo demais... cheguei em Lecce, tomei mais um sorvete, peguei minha mala e vim pra estação. Agora to no trem noturno, acabamos de sair pra Roma. Vou descansar que to acabada. Amanhã tem mais.
Fiquem com Deus.

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