segunda-feira, 5 de julho de 2010

Festival de fotos

Assis: a Basílica com a inscrição "Pax" (Paz) no gramado.

San Giovanni Rotondo: cada sino da igreja nova tem um tamanho e representa uma nota musical.
Praia em Polignano.

Polignano ao entardecer.


Porto Cesareo.
A orla de Porto Cesareo. Fofa, não?

Lecce e a igreja de San Nicolò e Cataldo, que fica dentro do cemitério.

Fonte grega em Gallipoli.

Acesso ao santuário de São Miguel, em Montesantangelo.


Entrada de uma loja em Assis, com a solitária árvorezinha florida.

Roma

Últimos dias na Itália. Tudo bastante corrido, pois encontrei meus irmãos.
Foram só dois dias, mas pudemos passear, conversar e rezar juntos. Foi bem legal. Há bastante tempo que não ficávamos assim, sós. Acho que desde que o primeiro saiu da casa do pai e da mãe...
A coisa mais importante foi ir ao Vaticano, no domingo. Participamos da missa e depois fomos fazer uma oração por nossos pais e toda a família. Rezamos também pelos amigos e conhecidos. Portanto, é bem provável que você que está lendo, seja lá quem for, tenha recebido uma oração naquele dia. :-)))
Eu, de minha parte, estou encerrando o caminho. Não sei se vai haver o III. É engraçado. Dessa vez não estou sentindo o que senti da vez passada – aquela certeza de que logo estaria aqui de novo. Não sei. Mas seja o que Deus quiser. Sempre foi, sempre será, na verdade.
Gostaria de agradecer a todas as pessoas queridas que participaram de mais esta aventura comigo. Obrigada pelo carinho, a presença, a força, os telefonemas, os e-mails, enfim, por fazerem parte de minha vida. Como eu agradeço a Deus por vocês.
Pretendo postar mais algumas fotos, assim eu que tiver um tempo livre. A Itália ainda tem muita coisa bonita pra mostrar.
Bem, meus queridos. Mais uma vez, obrigada a todos.
FIQUEM COM DEUS e até breve!!!

domingo, 4 de julho de 2010

Mais fotos: miscelânea

"Caminho": meus pés no início da estrada matonata.
O Jônico.
Fachada do Café em Lecce, onde tomei um capuccino super gostoso ouvindo uma música legal. Segue o link:
http://www.youtube.com/watch?v=AZ9vHz72HUk


Outdoor em Lecce. Retrata bem o jeito sarcástico dos italianos. Essa gostosa aí da foto é a vovó Irma, tem 68 anos e consome o produto anunciado: água mineral Lilia...


Entrada de um dos muitos B&B em Porto Cesareo.


Anúncios de imobiliária, também em Porto Cesareo, pros mais animados.

Amores-perfeitos.


O Jônico, campeão nas fotos.


Um pássaro descansando na pedra e aproveitando a brisa marítima.


Vovôs na praça: Manfredônia, na Puglia.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Assis, o blog e a limitação das palavras

Assis é indescritível. Tenho tentado demonstrar o que vejo e sinto aqui, mas as palavras são absolutamente insuficientes. Talvez não seja assim com todo mundo, talvez muita gente venha aqui só por turismo, ou a passeio, ou por curiosidade, ou mesmo por fé – e reconheço que cada um tem sua experiência e que cada uma delas tem valor próprio. A minha é sempre, como já disse, inesperada e perfeita. Exatamente aquilo de que eu precisava naquele momento.
Assis é um jeito naive de estar no mundo. Algo que se perdeu, ou nunca chegou a se consolidar, porque viver dessa forma exige coragem. É difícil ser... natural. Temos medo. A naturalidade, no limite, é, também (mas não só), fragilidade. E nossa cultura nos treina/seduz com a idéia de segurança. Assis desafia as seguranças.
Estou na estação de trem, deixando a cidade. Ganhei um monte de coisas aqui, como sempre. Mas as palavras são sempre deficientes para expressar o que realmente importa.
Por causa disso, deixo com vocês um episódio, tão naive quanto eloqüente, sobre o que estou sentindo. É uma tradução minha, da edição italiana, de um capítulo do “Fioretti” de São Francisco de Assis.

“De como São Luís, rei da França, visitou Frei Egídeo.

Caminhando São Luís, rei da França, em peregrinação, a visitar os santuários pelo mundo, e sabendo da grande fama de santidade de frei Egídeo, o qual era um dos primeiros companheiros de São Francisco, decidiu em seu coração visitá-lo. Por isso, foi a Peruggia, onde morava então o frade, e chegando à porta do convento como um pobre peregrino desconhecido, com poucos companheiros, pedia com grande insistência para falar com Egideo, nada dizendo ao frade que atendia à porta sobre sua identidade.
O porteiro então disse ao frei que um peregrino o chamava à porta. E Deus revelou a Egideo que o peregrino era o rei da França. Subitamente, com grade fervor ele desce de sua cela e corre à porta e, sem que ninguém dissesse nada, ambos os santos, que nunca se haviam visto, ajoelharam-se e abraçaram-se, como se há muito tempo fossem grandes amigos. E nada falaram um ao outro, mas permaneceram abraçados em silêncio. Ficaram assim durante muito tempo, até que, ainda sem uma palavra, se separaram. E São Luís continuou sua viagem e frei Egideo retornou à sua cela.
Quando o rei partiu, um dos frades perguntou a outro quem era aquele a quem havia abraçado frei Egideo e ele lhe respondeu que era Luís, o rei da França, que tinha vindo ver o frade. Sentindo-se tristes porque frei Egideo não dirigira sequer uma palavra ao rei, que viera de tão longe para vê-lo, os frades procuraram Egideo para repreendê-lo. Mas ele respondeu:
Caríssimos frades, não fiquem surpresos com isso, porque nem eu nem ele poderíamos trocar palavras, mas, da forma como nos abraçamos, a luz da divina sabedoria revelou e manifestou a mim o seu coração e, a ele, o meu; e assim, por obra divina, aquilo que eu gostaria de dizer a ele e ele a mim, foi muito melhor expressado do que se nós houvéssemos falado com a boca – e com maior consolação. E se quiséssemos explicar com a voz aquilo que sentíamos no coração, devido à deficiência da língua humana, que não pode exprimir claramente os mistérios secretos de Deus, sentiríamos tristeza e não alegria. No entanto, podem acreditar: o rei partiu daqui maravilhosamente consolado”.
Sem palavras.
Fiquem com Deus.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Assis só minha, à noite

Basílica iluminada: 23h e 30 min.
Porta San Giacomo.

Basílica às 21h e 30 min.

Fotos de Assis, postadas da Basílica, onde tem sinal!

A rua calminha, primeira foto tirada de Assis.

Cantos fofos da cidade.

A Basílica, maravilhosa como sempre.

Escultura representando São Francisco.

Assis. Simples assim. :-)))


Arcada na Basílica.


Vista parcial da cidade.

Paz

Hoje passei o dia em Santa Maria degli Angeli. Fui e voltei caminhando, pela estrada matonata. Queria meditar, conversar com Deus sobre algumas coisas, umas dúvidas, uns acertos que tinha que fazer com Ele. E também rezar pelos meus pais e todas as pessoas amadas.
Cheguei lá para a missa das onze. O dia estava lindo, quente – muito quente, aliás. Depois da missa, fui à capelinha da Porciúncula, à capela do trânsito e me sentei na grande igreja pra falar com Deus.
Tava lá expondo uma questão pra Ele quando de repente uma freirinha já meio velhinha chegou pra mim, do nada, e começou a falar em italiano. Eu não entendia o que ela tava falando, exceto uma única e pequena frase. Bem. Esta frase se encaixava exatamente naquilo que eu tava conversando com Ele. Era uma resposta. Pra mim, funcionou dessa forma. Isso trouxe muita paz pro meu coração.
Por falar em paz. Uma outra questão que tava vendo com Ele. Já bloguei um pouco sobre isso. O conceito de paz. Apesar de já estar bastante convencida de que este talvez seja o valor mais importante para mim, tinha alguns momentos em que eu ficava insegura quanto ao fato de isso poder ser, na realidade, uma patologia, um medo do conflito, quase uma incapacidade gerencial para certos aspectos da vida, digamos assim.
Sempre tive HORROR a briga. Claro que, agora, já entendo melhor as razões disso. Mas me faltava a certeza de que esta característica própria fosse “legítima” (isto é, positiva para mim e para os que me cercam).
Enfim. Já falei muito sobre isso com Deus. Então tava pensando nessas coisas. Quando saí da igreja, entrei na livraria, onde tem um monte de obras franciscanas super interessantes e um título me chamou a atenção: ”Os franciscanos e a não-violência” (Butigan, K. at al, publicado pelo Serviço para a não violência Pace e Bene, s. l., 2003). Pensei: “Isso vai me ajudar”. Comprei. Sai da livraria e entrei numa Trattoria, pois era mais ou menos uma da tarde. Lugar fofo, tinha umas mesinhas numa varanda, super agradável. Pedi o almoço e comecei a ler. Resultado: passei a tarde todinha ali – e li o livro todo. Era o que eu precisava “saber”.
Cada um tem seu percurso, sua história. Cada um tem seus valores, suas prioridades – e eu acho que, no final das contas, a gente segue o caminho que consegue preservar de modo mais completo a nossa identidade, a nossa integridade pessoal diante de nós mesmos. E, seja lá por que motivo for, a paz é um elemento essencial da minha integridade. Eu não sei viver sem isso. Ou, mais precisamente, não quero.
O livro trata da experiência de São Francisco em escolher a não-violência. Diz que isso foi, de certa forma, o tratamento que ele deu ao trauma de ter participado da guerra (antes de se converter). Fala do episódio em que o santo, participando das Cruzadas, decidiu ir aos muçulmanos sem arma alguma, fazendo-se prisioneiro de um sultão que, no final, virou amigo dele. :-)))
Muitas outras coisas legais, tem o livro. Conta também a experiência do lobo que assombrava a cidade de Gubbio (fica aqui perto de Assis). São Francisco foi pros matos, procurou o lobo, conversou com ele e pediu que ele parasse de fazer mal a homens e animais. O lobo deu a patinha pro santo pra selarem o pacto de paz. Muito fofo.
Mais do que isso: diz o livro que a gente tem que ter coragem pra construir a paz. Ela exige que a gente se aproxime do que nos amedronta SEM ARMAS, como Francisco fez com o lobo. Sair do modelo da ameaça recíproca. Enxergar os motivos do outro, sua condição de semelhante, o que significa, no limite, reconhecer nele sua vulnerabilidade. Sua finitude. Somos todos iguais em nossa fragilidade intrínseca. Enxergar isso nos ajuda a viver em paz. Porque, no limite, a violência é um instrumento de AUTOPROTEÇÃO. E não existe proteção contra o fato extremo de que todos vamos morrer... então, a violência, ainda no limite, é INÚTIL...
A cortesia também faz parte da atitude franciscana de não-violência. A gentileza desarma os corações. Uma atitude de respeito para com a pessoa, os valores, a vulnerabilidade do outro instaura um ambiente de paz.
Por fim, é preciso estar preparado para sofrer, se o caminho da não-violência for escolhido. E não é o sofrimento pelo sofrimento. O sofrimento é incidental. É, digamos assim, uma conseqüência assumida, um preço eventual a ser pago, se for preciso, para conseguir a paz. Pode-se perder coisas quando se opta pela paz. Pode-se perder coisas materiais ou emocionais. Pode-se perder pessoas. Pode-se perder poder. Pode-se perder o controle da situação. Pode-se perder bens. Mas opta-se por isso, porque se sabe que, no processo, o ganho supera infinitamente as perdas.

Seguem alguns trechos muito interessantes do livro:

A não-violência é uma forma de vida para pessoas corajosas;
A não-violência busca acabar com a injustiça, não com as pessoas;
A não-violência aceita a violência, se necessário, mas nunca a inflige;
A não-violência aceita voluntariamente as conseqüências de seus atos;
A não-violência é um processo de aprendizado lento e requer paciência tanto consigo próprio como com os outros;
A não-violência requer a revelação honesta de nosso próprio eu a nós mesmos e ao outro;
A não-violência renuncia aos jogos de vítima/algoz, evitando o maniqueísmo e a satanização do outro;
A não-violência se baseia no diálogo, isto é, em acordos, não em suposições, pois muitos conflitos se originam de mal entendidos;
A não-violência reconhece que cada um de nós está numa viagem espiritual e que todas as nossas experiências nos ensinam e transformam, o que gera gratidão;
A não-violência zela para que o diálogo com o outro transcorra num clima não de ameaça, mas sim de conforto e segurança.

Quem tiver mais interesse no assunto, pode procurar a página eletrônica do Serviço Para a Não-violência Pace e Bene, indicado no livro: www.paceebene.org.
Grande beijo a todos.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Sempre Assis

Não consegui postar as fotos. O sinal aqui é bem fraco, não sei exatamente por quê. Como tava em cima da hora da peça, decidi sair e deixar pra postar mais, depois.
Gente, foi lindo... lindo demais. Saí super emocionada do teatro. Quis postar agora pra não perder nada do que estou sentindo.
Como havia adiantado, a peça aborda alguns episódios da vida de Clara de Assis. Sua aproximação com Francisco, a ida para a Porciúncula, a fundação das clarisssas em São Damiano, a expulsão dos sarracenos da cidade por meio da oração e a morte da santa. Como também comentei, é um musical, com uma companhia de atores/bailarinos italiana, cujas vozes são belíssimas. As músicas? Maravilhosas. Comprei o CD. Vou ouvir direto pra matar as saudades.
No final, já eram onze e meia, saí do teatro e vim andando pro hotel, que fica perto da Basílica e da rua calminha. Ninguém na rua. Olhei pro alto: milhares de estrelas no céu. Assis era toda minha.
Vim pensando na vida, no depois da vida, em Deus, nas pessoas amadas... agradeci mais essa bênção, pois tenho certeza de que este momento mágico eu não vou esquecer nunca. Nas horas difíceis ele vai voltar, me ajudando a acreditar que tem alguém cuidando de mim.
Como eu adoro Assis...
Como tudo que me acontece aqui é sempre assim: inesperado, perfeito e... gentil. Como Deus é gentil comigo.
Queridos, eu vou dormir. Quero guardar o dia de hoje no coração.
Assim que der, eu posto umas fotos.
Fiquem com Deus.

Assis

Como eu adoro Assis...
Cheguei cansadíssima aqui. Não dormi quase nada na viagem, não sei exatamente porquê. Cada hora era uma coisa: barulho, solavanco de trem, ar condicionado muito frio... enfim. Quando cheguei em Roma, ainda peguei outro trem meio lento pra cá. Mas avistar a cidade ao longe, lá de Santa Maria degli Angeli, imediatamente me deixou feliz.
Vi que hoje o tempo tava realmente quente. Assis tá toooooda florida, os gramados verdinhos, nunca senti tanto calor assim aqui. Deixei as coisas no hotel e, apesar do sono, logo saí pra caminhar e fui ver os lugares do meu coração. Primeiro, a rua calminha. Lembrei de tudo o que ela significou da vez anterior e de tantas coisas que mudaram depois dela. Lembrei do meu pai, que, há um ano atrás, acompanhou meu "Caminho I".
Dali, fui andar pela cidade, chegando até Santa Clara. Depois encontrei pelo caminho uma mercearia com frutas. Comprei cereja, nectarina e morango. E também pão, queijo e... vinho.
Almocei, pois tava morta de fome. Claro que depois do vinho eu fui dormir, né? Mas não quis esgotar todo o sono. Levantei meio forçada e voltei pra rua, pois ainda não tinha ido na Basílica. Entrei, dei umas voltas... tava pensando em me confessar. De repente, to andando, esbarro num pessoal falando português. Um deles era frade. Começamos a conversar e ele perguntou se eu queria acompanhá-los, pois estava mostrando alguns detalhes da capela para duas baianas que vieram visitá-lo. Eu quis.
Ele disse que era o único brasileiro morando na Basílica no momento. Baiano, ele também. Uma figura! Negro, gordinho, cara meio de rastafari, super doce. Explicou vários detalhes das pinturas da capela e entrou com a gente no Convento. Fomos até o refeitório dos frades! Meu coração tava batendo forte. Nunca pensei em entrar ali. Presentão que Deus me deu, hoje.
Quando acabou a visita, voltei pro hotel pra comer alguma coisa, pois daqui a pouco vou ver um espetáculo musical sobre Clara de Assis, no teatro daqui. Por isso, esta postagem é rápida.
Vou colocar umas fotos pra vocês também matarem as saudades.
Beijos e fiquem com Deus.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Gallipoli

O Jônico tá quase roubando o lugar do Adriático no meu coração.
Hoje fui a Gallipoli. A tal outra cidade que fica na costa, é maiorzinha que Porto Cesáreo e tem mais opções de transporte pra chegar.
Fui pela STP, uma companhia de ônibus. Eu ia deixar o hotel nesta manhã, pois agora à noite to pegando o trem noturno pra Roma, onde desembarco e parto direto pra Assis (ufa!). Olhei os horários pra Gallipoli que fossem perto do meu check-out e vi que às 11:45 saía um ônibus. Fechei a conta do hotel, deixei a mala com eles e fui pro ponto, que eu pensava que fosse no mesmo lugar onde peguei a condução pra Porto Cesáreo.
Não era. Mais uma vez, ao perguntar a um grupo de motoristas pra onde eu deveria me dirigir, escutei a indefectível resposta: “É pertinho, basta dobrar a esquina”. Só que a esquina era lá na linha do horizonte.
Como eu tinha chegado em cima da hora, saí correndo para alcançar o bendito. Alcancei, com ele já saindo. Sempre os passeios “com emoção”...
Subi no ônibus suando em bicas. Hoje foi o dia mais quente aqui no Salento. Lá fomos nós, por uma estrada bem sinalizada, bem asfaltada e bastante bonita. Em uma hora já estávamos avistando a ilha de Gallipoli.
Tinha constatado, pela internet, que o ponto final era relativamente perto do centro histórico. Mas, de repente, o motorista parou num grande estacionamento, saltou um monte de gente, subiu outro monte e eu fiquei perdida, pois nem sequer avistava o casario antigo. Perguntei e ele confirmou que era a capolinea sim, se eu quisesse ficar em Gallipoli, deveria saltar. Tão tá.
Saltei e fiquei perdidona. Não tinha nada disso na internet.
Perguntei pra um camelô de frutas e ele veio novamente com a frase assustadora: “Você vai direto, sempre direto, e logo alcança o centro histórico”. Respirei fundo e peguei a direção indicada. Em matéria de tônus muscular, não há nada melhor para os membros inferiores do que uma visita à Itália...
Andei realmente muito, por uma rua que sequer tava no mapa, o Corso di Leuca. No fim dele, tem o Corso Roma, onde você começa a se aproximar da parte velha da cidade. To andando por ele e, de repente, à direita, vejo uma pracinha fofa. Parei pra olhar e enxerguei um predinho ao fundo com a seguinte placa: “Stazione”. Pô. Como assim? Estação de quê???
Era uma estação de trem. Sim, eu tinha entendido errado. Achava que mesmo a FSE (Ferrovie Del Sud Est) operava a linha Lecce-Gallipoli por meio de ônibus, mas não. Aquela pracinha era o tal ponto final que eu tinha visto na internet, mas ponto final da FSE (trem) e não da STP (ônibus). Muito mais perto do centro histórico. Entrei e comprei o bilhete pra voltar por ela.
Prossegui pelo Corso Roma em direção à ponte que liga a parte continental à ilha. Gallipoli começou pela ilha, onde fica a cidade velha. Na parte nova, o continente, ela é bem arrumadinha, tem bastante comércio, lojinhas legais. Mas estávamos na hora fantasma que, lá, é ainda pior: de uma às seis da tarde! Quê isso??? Como esse pessoal ganha dinheiro? Me explica que eu quero fazer igual.
Peguei a ponte e logo avistei uma marina. Grandinha, chegava a ser um porto. Olhei pro mar: era aquela cor de novo. Nunca vi fundo de mar em porto. Lá, eu vi.
Fui seguindo todo o perímetro da “orla”. Muuuuito fofa!!! O casario é de uma singeleza encantadora: tudo clarinho, a maior parte em branco. Diversas igrejas, uma muralha que cerca toda a costa e, depois dela, o verde azulado transparente que cativa as pupilas...
Pelo que percebi, a cidade velha só tem uma praia própria pra banho: a da “Purità”. Chama-se assim porque lá fica a igrejinha de mesmo nome, dedicada a Nossa Senhora.
Olhando a praia, pude entender o horário fantasma estendido. Aliás, o que não dá pra entender é como eles conseguem deixar aquele paraíso pra trabalhar. É um escândalo. Uma aberração. Quase uma afronta.
O Jônico de novo, transparente, raso e sossegado, sobre aquele fundo claro como o dia. Resultado disso é uma gigantesca piscina de criança a céu aberto.
Tirei um montão de fotos, mas infelizmente tive que “economizar”, pois a bateria tava descarregando. Depois de percorrer a muralha, entrei pelo emaranhado do borgo antico. Muito gracinha. Como Lecce, é um labirinto (nisso são diferentes de Polignano, cujo traçado é geométrico). Fui me perdendo nos becos salentinos.
Andei mais um tantão, até que cansei. Parecia que não agüentava dar sequer mais um passo. Vi uma gellateria e resolvi sentar numa mesinha na calçada, de frente pro azul. A atendente trouxe o cardápio com uma infinidade de sorvetes, iogurtes, granitas e por aí vai. Pedi um salgado, pra fazer as vezes de almoço (já eram umas cinco da tarde) e uma granita de figo (Gallipoli também tem um monte de figueiras na orla – cheiro bom....). Não tinha a fruta, mas ela me ofereceu figo da índia, que minha mãe adorava e chamava de “figo nino” (algo como “figuinho”, em português). Tinha zilhões de anos que não comia essa fruta. Gostoso. Mais pelo registro afetivo do que pelo sabor mesmo. :-)))
Quando acabei, tava perto da hora do trem. Dei mais umas andadas e voltei, pois tinha muito chão pela frente ainda.
Cheguei na estação e vi que ela era bem simplesinha. Pra vocês terem uma idéia, não tem passarela entre as plataformas, a gente tem que atravessar pela linha do trem mesmo. Fiquei meio nervosa com isso, mas são tão poucas as partidas diárias que não tem perigo. Tinha uns dois trenzinhos prontos pra sair, ambos suuuuuper básicos, pareciam maria-fumaça. Pensei: “cara, esse troço vai sacolejar pra caramba!”. Mas o trem pra Lecce é mais sofisticado. Arrumadinho, tem ar condicionado e tudo. Vem da metrópole, para na estação, dá uns quinze minutos e volta no sentido oposto. Quando ele estacionou, fui logo subindo pra descansar lá dentro, onde tava mais fresquinho.
Viemos por uma estrada muito gostosa, com o sol se pondo, as oliveiras plantadas na margem dos trilhos, fofo demais... cheguei em Lecce, tomei mais um sorvete, peguei minha mala e vim pra estação. Agora to no trem noturno, acabamos de sair pra Roma. Vou descansar que to acabada. Amanhã tem mais.
Fiquem com Deus.

Fotos de Gallipoli

A ponte que liga o continente à ilha.

Gallipoli continental vista da ilha.


A praia da Purità.

Igrejinha da Purità.
O casario.


Duomo de Gallipoli.

Piazzeta fofa no centro histórico.


Gellateria.

Granita de figo nino.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Porto Cesareo

Tá, eu admito. Porto Cesareo é mais bonito que Polignano. Porto Cesareo é mais bonito que tudo.
Escolhi esse destino pelo Google Earth. Pesquisei toda a costa da Puglia e, onde eu encontrei o mar mais clarinho, marquei no mapa. Era Porto Cesareo.
O Google Earth não me enganou.
Estava na dúvida se ia à cidade ou não. É meio difícil chegar lá, tem que pegar um ônibus, o ponto é longe, tem poucos horários... mas eu ainda tinha hoje e amanhã pra ficar em Lecce. Já vi bastante daqui. Tinha duas opções relativamente viáveis fora. As duas ficavam do lado do mar Jônico, que eu queria ver. Uma delas era Gallipoli, cidade maiorzinha, com várias opções de ônibus, com um centro histórico importante... mas aquele mar verde falou mais alto. Concluí que, se era pra sair daqui, valia mais a pena tentar algo bem diferente. Gallipoli é Lecce em miniatura, na beira do mar. Porto Cesareo é... o mar.
Peguei a condução no horário de meio dia. Fui pela STP. A viagem durou uma hora, mas podia durar menos, pois não é tão longe. É que o ônibus passa em um monte de outras localidades antes: San Pietro in Lama, Copertino etc.
O ponto final é na Piazzale S. Pertini. Eu achei que fosse longe da praia, mas não. Facinho de chegar. É só pegar a Via A. Piccinni e ir até o fim dela. Fui fazendo um mapinha no super caderninho que levo pra todo lugar comigo, a fim de não me perder na volta.
A rua acaba numa murada de pedra, baixinha, e do outro lado já tem areia. Quando pisei nela e olhei pra frente, pra achar o mar, meus olhos viram a cor mais linda de todo o espectro: um verde misturado com azul tão, mas tão, mas tão claro, que chega a ofuscar a vista da gente.
Não acreditei naquilo. Olhei bem, olhei de novo, passeei minha visão por aquele paraíso esverdeado. Muito longe, algumas pessoas caminhavam dentro do sossegado Jônico. Era uma enseada rasinha. Fui andando na direção do mar.
Molhei meus pés na água morna. Caminhei um tempo naquela marola suave, até que, ao pisar numas pedras que tinham musgo, escorreguei e levei um tombo. Nada sério, mas achei melhor continuar pela areia.
Eu não tinha muito tempo, pois a última condução para Lecce partia às 15 horas. Fui beirando a orla e tirando uma infinidade de fotos, de todos os ângulos. Por mais descuidada que eu fosse, tudo saía lindo, pois não tem como tirar foto feia dali.
Tinha visto no meu guru, o Google Earth, uma praia tão bonita quanto aquela um pouco mais adiante. Não tinha muita idéia de quanto era esse “um pouco”. Sabia que tinha que atravessar uma espécie de marina, um portinho, pra chegar nela. Caminhei, caminhei... e nada da praia aparecer. Já tava distante e, por isso, desisti, com medo de perder o ônibus. Nessa hora me deu fome, mas, como estávamos na hora fantasma, só encontrei aberta uma enorme sorveteria. Bem. O cardápio de hoje, vocês já sabem...
Ao alcançar a praia inicial, tirei ainda mais algumas fotos e me dirigi, bem devagarinho, à praça, pra tomar a condução. Dei umas andadinhas em volta e tirei fotos de coisas que julguei interessantes, pra colocar no blog: B&B, imobiliária, horário dos ônibus. Acabei descobrindo que tinha uma outra empresa, com mais horários, que fazia a linha Lecce- Porto Cesareo. É uma tal de Chiffi. Mas só tem no verão (mais ou menos de junho a agosto).
Chegando em Lecce, ainda fui andar mais, pois estava no fim da hora fantasma e eu queria comprar um cadeado (porque a inteligência aqui cometeu o erro número um do turista distraído: trancar a mala com as chaves dentro – e um funcionário do hotel teve que arrebentar o fecho...). Não achei. Só servia aquele com lacre de fio de aço, já que o fecho ficou destruído e eu vou ter que trancar no fecho-eclair. Ou não, né? Vai sem lacre mesmo.
Bem, gente, eu to pregada. Além do cansaço físico e da dorzinha da queda, foi uma emoção muito forte conhecer Porto Cesareo. Consumiu minhas energias. Vou pra caminha.
Beijos, fiquem com Deus. E com as fotos, que seguem adiante.

Porto Cesareo






domingo, 27 de junho de 2010

Meus pais

Aqui na Itália, tudo é a minha mãe. No sul da Itália, particularmente.
As comidas, os exageros, o jeito gaiato. Coisas que eu não entendia, que escapavam do nosso desvio padrão cultural e, por isso, eu estranhava. Aqui, tudo isso é normal.
Tenho pensado muito nos meus pais. Primeiro, por razões óbvias: é impossível não lembrar da minha mãe estando na Puglia. Também porque a morte do meu pai ainda é um evento recente, que eu não consegui elaborar por completo.
Entendo melhor minha relação com eles... ou talvez, não os tendo mais por perto para influenciar minha interpretação, esteja fazendo um diagnóstico de tudo e rotulando à minha maneira. O fato é que percebo o quanto eles foram/são centrais dentro de mim. Cresci, me distanciei, fiz meu caminho, é claro. Mas acho que nunca me afastei da coisa mais importante que eles deixaram: estimular meus aprendizados. Nos momentos fáceis e nos difíceis. Tudo o que sou hoje veio disso, do que aprendi com eles e do que aprendi por causa deles.
Sou grata, infinitamente grata aos dois. Não sei se fui capaz de expressar isso convenientemente enquanto eles estavam vivos. Acho até que me esforcei, mas talvez não tenha sido suficiente. De qualquer jeito, sei que fiz aquilo que podia fazer. E eles também.
Hoje na missa rezei por eles, sempre rezo. Senti saudades... quis voltar no tempo, evitar todas as suas dores. Mas, coitada de mim... sou tão mortal quanto eles... tão impotente quanto eles... e um dia vou morrer como eles. Como é estranho, isso. A morte introduz uma percepção completamente estranha em nossa trajetória. Pensamos que somos imortais até sermos “atropelados” pela perda de alguém importante. Tudo muda depois disso. Entendemos até o fundo da alma que o tempo, que antes parecia infinito, tem prazo pra terminar.
Quando tive esta percepção, passei a tentar aproveitar ao máximo cada segundo de minha vida, não desperdiçando energia com o que não vale a pena. Acho mesmo que tenho conseguido garimpar, no meu repertório, apenas aquilo que compensa o investimento – pois tudo é investimento. Tudo o que a gente faz tem um preço e, de uma forma ou de outra, a gente paga. Nenhum episódio está a salvo de suas conseqüências... Mais um aprendizado que meus pais me proporcionaram.
Tenho sentido uma gratidão enorme por tê-los tido em minha vida. Esses momentos na Itália só fizeram aumentar este sentimento. Reconheço, em mim, o que veio deles e fico feliz com isso. Me entendo melhor. Me reconcilio com eles e comigo. Fico mais em paz. E mais uma vez agradeço a Deus por tudo o que me trouxe aqui e, especialmente, por eles.

De tudo, um pouco

Showzinho público na Piazza Santo Oronzo, em Lecce. Vejam a lua cheia lá longe, no céu, à direita.

Mini-praça (piazzeta) em Vieste.
San Giovanni Rotondo: uma das estações da Via Sacra monumental.

Entrada do Parque Karol Woytila em Foggia, ao anoitecer.

Queijos típicos da região do Gargano, em Montesantangelo.

Fogos de artificio da festa de San Vito.

Café da manhã do hotel, em Polignano.
Cardápio de restaurante em Polignano.