sábado, 27 de fevereiro de 2010

Finitude

Estou com uma saudade incomensurável do meu pai. É uma mistura de sentimentos que eu sequer reconheço... Que bom que temos uma palavra que tenta aglutinar tudo isso, em nosso idioma...
Hoje faz exatamente dois anos que minha mãe morreu. Desde então, perdi um pouco o eixo. Especialmente, perdi meu eixo espiritual. Minha relação com a finitude sempre fora intermediada por minhas crenças religiosas, o que resolvia a questão por completo. Mas quando fui interpelada por esta experiência... comecei a perceber que meus conceitos não davam conta de minhas reações.
Logo depois, soube que meu pai estava gravemente doente. Isso radicalizou, de alguma forma, minha perplexidade diante da ideia da morte.
Tendo passado pela perda de duas pessoas tão centrais em minha vida uma após a outra, vi que nunca mais seria a mesma. É difícil explicar. Me sinto como um planeta que, por algum fenômeno da física, mudou seu eixo... talvez só alguns graus, mas... para sempre.
Esse estado de coisas está bastante relacionado à minha decisão de fazer o Caminho. Na Itália, em 2009, como já acontecera tantas e tantíssimas vezes, diversos pequenos (ou grandes...) acontecimentos se encaixavam em minha experiência anterior de que, se eu ARRISCASSE viver como se Deus existisse, Ele iria mostrar que realmente existia. É engraçado... toda vez que eu racionalizo a ideia de Deus, eu perco Ele. Toda vez que eu arrisco acreditar... mesmo que racionalmente não esteja acreditando muito... Ele "aparece".
Reconheço que, neste momento, talvez eu precise muito acreditar que Deus existe. Talvez seja necessário ter esta convicção para solucionar minha perplexidade diante da finitude.
Mas como eu sou imensamente grata por ter tido, durante toda a vida, aquela experiência não-racional, que, como já falei, é o que me convence MESMO da existência de um poder maior do que eu! Se agora eu tivesse apenas o racional para me socorrer, estaria perdida. O racional NÃO ME CONVENCE. O que me convence são as pequenas delicadezas de Deus... mas só fui capaz de experimentar isso depois de ter, com sinceridade, arriscado deixar que Ele cuidasse de mim.

Naquele dia, em Assis

No blog anterior, contei sobre um dia, em Assis, quando me confessei - e de como aquele dia tinha sido especial.
Não contei uma coisa, pois tava cansada e ia demorar muito pra postar. Mas tava lembrando disso e resolvi postar agora.
Depois de ter rezado o rosário, fui pro hotel e dei uma descansada. Eu tinha visto, na Basílica, que naquela noite ia haver uma apresentação de música clássica e me deu vontade de ir.
Lá pelas nove e meia, eu saí. A noite tava bem friazinha. O céu, escandalosamente límpido, com uma lua cheia imensa brilhando nele.
Entrei na Basílica, sentei... e começou a tocar uma música que eu amooooo! Aqui no Brasil, chamamos de "Doce é sentir", tradução da versão original, em italiano, "Dolce è sentire", de Riz Ortolani. Foi composta para o filme "Fratello sole, sorella luna", de Franco Zefirelli, que retrata a vida de São Francisco de Assis.
Fiquei eu ali, naquela noite linda, ouvindo essa música e olhando pras pinturas de Giotto na capela...
"Roses among thorns", pra quem leu o blog anterior...

Tô postando o link do you tube, abaixo, com a versão em inglês, pois foi a melhor que encontrei. O trecho do filme mostrado representa a chegada de São Francisco à igrejinha de San Damiano, onde Jesus, do crucifixo, pediu que ele reconstruísse a sua igreja.

Enjoy!


http://www.youtube.com/watch?v=WRDxpmV27p8&feature=related

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Sobre milagres

Uma vez ouvi uma frase que considero sensacional: "Pra quem tem fé, nenhum milagre é necessário. Pra quem não tem, todos os milagres do mundo não bastam"...
Claro que a primeira reação de quem escuta isso é pensar: "Pô. Então, pra que milagre?".
Milagre serve pra Deus chamar nossa atenção para aquilo que realmente importa, quando estamos muito distraídos com o resto. Por isso que, de um modo geral, todo milagre tem uma expressão de amor guardada nele. Porque o que importa, sempre, é... o amor.
Nunca gostei de fazer comércio com Deus, pedindo milagres. Eu até entendo que isso pode fazer parte de um certo tipo de religiosidade, que tem o seu valor. Acredito que tem gente que só sabe se relacionar com Deus neste padrão. E não deixa de ser uma manifestação de confiança num poder superior ao ser humano. Acho válido, como disse. Mas eu, pessoalmente, não sei interagir com Ele assim.
Tenho tentado encarar as coisas que me acontecem como aprendizados, nunca pedindo a Deus pra me tirar das situações difíceis. Peço, sim, pra Ele ficar junto comigo... e Ele realmente não tem me tirado, mas sempre me dá sinais carinhosos de que está ali também. Isso, pra mim, são os milagres mais lindos... quantas pequenas coisas improváveis, inimagináveis mesmo, Ele faz acontecer, só pra consolar meu coração... Coisas tão pequenas, tão gentis... o amor é gentil.
Achei lindo quando soube, ao ler sobre o milagre eucarístico de Lanciano, que o tecido humano encontrado na substância é do coração. Não é lindo, isso? Deus sempre com um carinho escondido pra quem se dispuser a buscar. Quantos séculos se passaram, o coração de Deus ali, todo esse tempo, até que a ciência pudesse descobrir isso...
Essa é, pra mim, a parte mais legal de um milagre: o amor escondido por trás do fato sobrenatural.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Lanciano

Breves informações sobte o "milagre eucarístico de Lanciano":

O Milagre Eucarístico de Lanciano ocorreu no século VIII, na cidade italiana de Lanciano - antes chamada de "Anciano".

Viviam no mosteiro de São Legoziano os "monges de São Basílio". Um deles, que se sentia atormentado pela dúvida na crença católica da transubstanciação, segundo a tradição, durante uma missa, viu a hóstia, no momento do ato da consagração, converter-se em carne viva e o vinho em sangue vivo. A Hóstia-Carne apresentava, como ainda hoje se pode observar, uma coloração ligeiramente escura, tornado-se rósea se iluminada pelo lado oposto, e tinha uma aparência fibrosa; o Sangue era de cor terrosa (entre amarelo e o ocre), coagulado em cinco fragmentos de formas e tamanhos diferentes. Inicialmente essas relíquias foram conservadas num tabernáculo de marfim e, a partir de 1713, até hoje, passaram a ser guardadas numa custódia de prata, e o Sangue, num cálice de cristal.


A partir de 1574, aos reconhecimentos eclesiásticos do milagre, acrescentaram-se pronunciamentos científicos. Em novembro de 1970 os Frades Menores Conventuais, sob cuja responsabilidade se encontravam as substâncias, submeteram-nas a análise científica que foi confiada aos Dr. Odoardo Linoli, Chefe de Serviço dos Hospitais Reunidos de Arezzo e Livre Docente de Anatomia e de Histologia Patológica e de Química e Microscopia Clínica e ao professor Ruggero Bertelli, emérito de Anatomia Humana Normal na Universidade de Siena.

Após uma série de análises e constatações, o parecer foi publicado em "Quaderni Sclavo di diagnostica clinica e di laboratório", 1971, fasc. 3, Grafiche Meini, Siena, dizendo que:

A carne é carne verdadeira.
O sangue é sangue verdadeiro.
A carne seria do tecido muscular do coração (contém, em seção, o miocárdio, endocárdio, o nervo vago e, no considerável espessor do miocárdio, o ventrículo cardíaco esquerdo).
A carne e o sangue seriam do mesmo tipo sangüíneo (AB) e pertencem à espécie humana.
No sangue teriam sido encontrados, além das proteínas normais, os minerais cloreto, fósforo, magnésio, potássio, sódio e cálcio. As proteínas observadas no sangue teriam sido encontradas normalmente fracionadas em percentagem a respeito da situação seroproteínica do sangue vivo normal. Ou, seja, é sangue de uma pessoa viva.
A conservação da carne e do sangue, deixados em estado natural por doze séculos e expostos à ação de agentes físicos, atmosféricos e biológicos constituiria um fenômeno extraordinário.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Pré-roteiro

Pensei num roteiro, que já mudei algumas vezes, mas que, no momento, fechei nas seguintes cidades: Roma, Assis, Lanciano, Bari, Polignano e algumas localidades na região denominanda "Gargano". Roma, obviamente, é a porta de entrada. Assis... bem, Assis não precisa de nenhuma explicação. É o meu lugar no mundo. Lanciano é uma cidade perto da costa Adriática, onde ocorreu um fato sobrenatural: uma hóstia consagrada tornou-se parte de tecido humano e encontra-se depositada numa igreja local. Bari e Polignano... não poderia deixar de ir. Quero estar na festa de São Vito, na cidade do meu avô, em junho. As demais cidades incluem alguns santuários importantes da Puglia, especialmente San Giovanni Rotondo, onde morou e está sepultado São Pio.

Desta vez, eu acredito que a questão da mala possa ser melhor equacionada, já que minha irmã vai estar na Itália também, por causa do doutorado. Então, se eu me descontrolar e comprar o dicionário completo da língua italiana, ou todas as obras de Dante, é só mandar pelo Correio (lá chamado de "Posta") pra Roma... na hora de voltar pro Brasil, eu junto tudo e trago. Não preciso ficar transitando com o peso extra pra lá e pra cá.

Pretendo repetir todas as providências tomadas na viagem anterior. Tirando a questão da mala, acho que não houve erros. Ah... eu tava pensando em comprar um smartphone pra me comunicar, pois tem mais recursos do que o meu celular. Mas não consegui comprar o que me indicaram (Palm). Simplesmente não achei nas lojas. E também estou sem saber se ele é compatível com o teclado, pra poder postar no blog e, finalmente, se ele aceita algum tipo de cartão com acesso à internet, lá na Itália, sem perder os recursos disponíveis. Estou tentando descobrir tudo isso.

Preciso também trocar as datas das passagens, pois elas não são compatíveis com minhas férias. Não havia feito isso antes por causa do estado de saúde do meu pai. Não sabia nem se poderia viajar. Nesta semana, mandei um e-mail tentando fazer a troca, mas ainda não obtive resposta das companhias. Acredito que deva entrar na Itália por Roma e encontrar minha irmã, embora possa também entrar por Bari, pois tem um grande aeroporto lá. Ainda não decidi. Estou fechando o cronograma para que possa chegar em Polignano a tempo da festa de San Vito. De qualquer jeito, vou passar por Roma em algum momento, não só para ver minha irmã, mas também para visitar o túmulo de São Judas Tadeu, que fica no Vaticano, e lá fazer uma oração por meu pai, pois ele gostava muito deste santo.

Nunca me esquecerei deste acontecimento na vida de minhas retinas tão fatigadas...

Meu segundo blog. Outra viagem à Itália.

Na anterior, em meados de 2009, sabia que voltaria. Sabia tanto que já saí de lá com a passagem de volta comprada - e não foi nada planejado. Aconteceu só porque eu não queria retornar pela mesma companhia aérea que tinha usado na ida, devido ao acidente. Mas, quanto mais o tempo passava, mais eu tinha certeza de que em 2010 estaria na Itália de novo - e, principalmente, de que esta viagem seria uma continuação do "Caminho"...

Quando fui fazer o Caminho de Francisco, meu pai já estava doente. Mesmo assim, pude aproveitar a presença dele em minha vida durante mais alguns meses. Estávamos sempre "ligados" durante a viagem, ou por telefone, ou pelo blog. Ele fez essa viagem comigo.
E agora eu sei que preciso voltar à Itália, a Assis, por causa dele. De mim, também, é claro, mas do que tem em mim por causa dele.

Faz menos de uma semana que ele se foi. Meus sentimentos em relação a isso são, ainda, confusos e inexplicáveis. Predominam um alívio pelo fim dos seus sofrimentos e uma saudade tão, mas tão, mas tão infinita que não tem como colocar em palavras. Saudade das pequenas coisas... das grandes. Saudade que só conhece algum alívio quando eu percebo em mim tantas coisas do meu pai. E nunca tinha me dado conta disso. Quando, no fim, os detalhes que distraíam minha atenção foram afastados, concluí que quase tudo o que eu sou veio do que aprendi com ele. Ou por causa dele.

Já comentei sobre aquele poema do Drummond, "No meio do caminho". Falei disso no blog anterior, sobre a percepção cada vez mais clara de que a única coisa realmente definitiva em minha vida era o caminho. Mas falei também das pedras, das pedras que passam, ou, mais ainda, das que não passsam - e ficam gravadas na vida de minhas retinas tão fatigadas. Nunca me esquecerei do meu pai. De tudo o que ele foi e é neste caminho. Nunca me esquecerei que no meio do caminho tinha uma pedra...