segunda-feira, 5 de julho de 2010

Festival de fotos

Assis: a Basílica com a inscrição "Pax" (Paz) no gramado.

San Giovanni Rotondo: cada sino da igreja nova tem um tamanho e representa uma nota musical.
Praia em Polignano.

Polignano ao entardecer.


Porto Cesareo.
A orla de Porto Cesareo. Fofa, não?

Lecce e a igreja de San Nicolò e Cataldo, que fica dentro do cemitério.

Fonte grega em Gallipoli.

Acesso ao santuário de São Miguel, em Montesantangelo.


Entrada de uma loja em Assis, com a solitária árvorezinha florida.

Roma

Últimos dias na Itália. Tudo bastante corrido, pois encontrei meus irmãos.
Foram só dois dias, mas pudemos passear, conversar e rezar juntos. Foi bem legal. Há bastante tempo que não ficávamos assim, sós. Acho que desde que o primeiro saiu da casa do pai e da mãe...
A coisa mais importante foi ir ao Vaticano, no domingo. Participamos da missa e depois fomos fazer uma oração por nossos pais e toda a família. Rezamos também pelos amigos e conhecidos. Portanto, é bem provável que você que está lendo, seja lá quem for, tenha recebido uma oração naquele dia. :-)))
Eu, de minha parte, estou encerrando o caminho. Não sei se vai haver o III. É engraçado. Dessa vez não estou sentindo o que senti da vez passada – aquela certeza de que logo estaria aqui de novo. Não sei. Mas seja o que Deus quiser. Sempre foi, sempre será, na verdade.
Gostaria de agradecer a todas as pessoas queridas que participaram de mais esta aventura comigo. Obrigada pelo carinho, a presença, a força, os telefonemas, os e-mails, enfim, por fazerem parte de minha vida. Como eu agradeço a Deus por vocês.
Pretendo postar mais algumas fotos, assim eu que tiver um tempo livre. A Itália ainda tem muita coisa bonita pra mostrar.
Bem, meus queridos. Mais uma vez, obrigada a todos.
FIQUEM COM DEUS e até breve!!!

domingo, 4 de julho de 2010

Mais fotos: miscelânea

"Caminho": meus pés no início da estrada matonata.
O Jônico.
Fachada do Café em Lecce, onde tomei um capuccino super gostoso ouvindo uma música legal. Segue o link:
http://www.youtube.com/watch?v=AZ9vHz72HUk


Outdoor em Lecce. Retrata bem o jeito sarcástico dos italianos. Essa gostosa aí da foto é a vovó Irma, tem 68 anos e consome o produto anunciado: água mineral Lilia...


Entrada de um dos muitos B&B em Porto Cesareo.


Anúncios de imobiliária, também em Porto Cesareo, pros mais animados.

Amores-perfeitos.


O Jônico, campeão nas fotos.


Um pássaro descansando na pedra e aproveitando a brisa marítima.


Vovôs na praça: Manfredônia, na Puglia.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Assis, o blog e a limitação das palavras

Assis é indescritível. Tenho tentado demonstrar o que vejo e sinto aqui, mas as palavras são absolutamente insuficientes. Talvez não seja assim com todo mundo, talvez muita gente venha aqui só por turismo, ou a passeio, ou por curiosidade, ou mesmo por fé – e reconheço que cada um tem sua experiência e que cada uma delas tem valor próprio. A minha é sempre, como já disse, inesperada e perfeita. Exatamente aquilo de que eu precisava naquele momento.
Assis é um jeito naive de estar no mundo. Algo que se perdeu, ou nunca chegou a se consolidar, porque viver dessa forma exige coragem. É difícil ser... natural. Temos medo. A naturalidade, no limite, é, também (mas não só), fragilidade. E nossa cultura nos treina/seduz com a idéia de segurança. Assis desafia as seguranças.
Estou na estação de trem, deixando a cidade. Ganhei um monte de coisas aqui, como sempre. Mas as palavras são sempre deficientes para expressar o que realmente importa.
Por causa disso, deixo com vocês um episódio, tão naive quanto eloqüente, sobre o que estou sentindo. É uma tradução minha, da edição italiana, de um capítulo do “Fioretti” de São Francisco de Assis.

“De como São Luís, rei da França, visitou Frei Egídeo.

Caminhando São Luís, rei da França, em peregrinação, a visitar os santuários pelo mundo, e sabendo da grande fama de santidade de frei Egídeo, o qual era um dos primeiros companheiros de São Francisco, decidiu em seu coração visitá-lo. Por isso, foi a Peruggia, onde morava então o frade, e chegando à porta do convento como um pobre peregrino desconhecido, com poucos companheiros, pedia com grande insistência para falar com Egideo, nada dizendo ao frade que atendia à porta sobre sua identidade.
O porteiro então disse ao frei que um peregrino o chamava à porta. E Deus revelou a Egideo que o peregrino era o rei da França. Subitamente, com grade fervor ele desce de sua cela e corre à porta e, sem que ninguém dissesse nada, ambos os santos, que nunca se haviam visto, ajoelharam-se e abraçaram-se, como se há muito tempo fossem grandes amigos. E nada falaram um ao outro, mas permaneceram abraçados em silêncio. Ficaram assim durante muito tempo, até que, ainda sem uma palavra, se separaram. E São Luís continuou sua viagem e frei Egideo retornou à sua cela.
Quando o rei partiu, um dos frades perguntou a outro quem era aquele a quem havia abraçado frei Egideo e ele lhe respondeu que era Luís, o rei da França, que tinha vindo ver o frade. Sentindo-se tristes porque frei Egideo não dirigira sequer uma palavra ao rei, que viera de tão longe para vê-lo, os frades procuraram Egideo para repreendê-lo. Mas ele respondeu:
Caríssimos frades, não fiquem surpresos com isso, porque nem eu nem ele poderíamos trocar palavras, mas, da forma como nos abraçamos, a luz da divina sabedoria revelou e manifestou a mim o seu coração e, a ele, o meu; e assim, por obra divina, aquilo que eu gostaria de dizer a ele e ele a mim, foi muito melhor expressado do que se nós houvéssemos falado com a boca – e com maior consolação. E se quiséssemos explicar com a voz aquilo que sentíamos no coração, devido à deficiência da língua humana, que não pode exprimir claramente os mistérios secretos de Deus, sentiríamos tristeza e não alegria. No entanto, podem acreditar: o rei partiu daqui maravilhosamente consolado”.
Sem palavras.
Fiquem com Deus.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Assis só minha, à noite

Basílica iluminada: 23h e 30 min.
Porta San Giacomo.

Basílica às 21h e 30 min.

Fotos de Assis, postadas da Basílica, onde tem sinal!

A rua calminha, primeira foto tirada de Assis.

Cantos fofos da cidade.

A Basílica, maravilhosa como sempre.

Escultura representando São Francisco.

Assis. Simples assim. :-)))


Arcada na Basílica.


Vista parcial da cidade.

Paz

Hoje passei o dia em Santa Maria degli Angeli. Fui e voltei caminhando, pela estrada matonata. Queria meditar, conversar com Deus sobre algumas coisas, umas dúvidas, uns acertos que tinha que fazer com Ele. E também rezar pelos meus pais e todas as pessoas amadas.
Cheguei lá para a missa das onze. O dia estava lindo, quente – muito quente, aliás. Depois da missa, fui à capelinha da Porciúncula, à capela do trânsito e me sentei na grande igreja pra falar com Deus.
Tava lá expondo uma questão pra Ele quando de repente uma freirinha já meio velhinha chegou pra mim, do nada, e começou a falar em italiano. Eu não entendia o que ela tava falando, exceto uma única e pequena frase. Bem. Esta frase se encaixava exatamente naquilo que eu tava conversando com Ele. Era uma resposta. Pra mim, funcionou dessa forma. Isso trouxe muita paz pro meu coração.
Por falar em paz. Uma outra questão que tava vendo com Ele. Já bloguei um pouco sobre isso. O conceito de paz. Apesar de já estar bastante convencida de que este talvez seja o valor mais importante para mim, tinha alguns momentos em que eu ficava insegura quanto ao fato de isso poder ser, na realidade, uma patologia, um medo do conflito, quase uma incapacidade gerencial para certos aspectos da vida, digamos assim.
Sempre tive HORROR a briga. Claro que, agora, já entendo melhor as razões disso. Mas me faltava a certeza de que esta característica própria fosse “legítima” (isto é, positiva para mim e para os que me cercam).
Enfim. Já falei muito sobre isso com Deus. Então tava pensando nessas coisas. Quando saí da igreja, entrei na livraria, onde tem um monte de obras franciscanas super interessantes e um título me chamou a atenção: ”Os franciscanos e a não-violência” (Butigan, K. at al, publicado pelo Serviço para a não violência Pace e Bene, s. l., 2003). Pensei: “Isso vai me ajudar”. Comprei. Sai da livraria e entrei numa Trattoria, pois era mais ou menos uma da tarde. Lugar fofo, tinha umas mesinhas numa varanda, super agradável. Pedi o almoço e comecei a ler. Resultado: passei a tarde todinha ali – e li o livro todo. Era o que eu precisava “saber”.
Cada um tem seu percurso, sua história. Cada um tem seus valores, suas prioridades – e eu acho que, no final das contas, a gente segue o caminho que consegue preservar de modo mais completo a nossa identidade, a nossa integridade pessoal diante de nós mesmos. E, seja lá por que motivo for, a paz é um elemento essencial da minha integridade. Eu não sei viver sem isso. Ou, mais precisamente, não quero.
O livro trata da experiência de São Francisco em escolher a não-violência. Diz que isso foi, de certa forma, o tratamento que ele deu ao trauma de ter participado da guerra (antes de se converter). Fala do episódio em que o santo, participando das Cruzadas, decidiu ir aos muçulmanos sem arma alguma, fazendo-se prisioneiro de um sultão que, no final, virou amigo dele. :-)))
Muitas outras coisas legais, tem o livro. Conta também a experiência do lobo que assombrava a cidade de Gubbio (fica aqui perto de Assis). São Francisco foi pros matos, procurou o lobo, conversou com ele e pediu que ele parasse de fazer mal a homens e animais. O lobo deu a patinha pro santo pra selarem o pacto de paz. Muito fofo.
Mais do que isso: diz o livro que a gente tem que ter coragem pra construir a paz. Ela exige que a gente se aproxime do que nos amedronta SEM ARMAS, como Francisco fez com o lobo. Sair do modelo da ameaça recíproca. Enxergar os motivos do outro, sua condição de semelhante, o que significa, no limite, reconhecer nele sua vulnerabilidade. Sua finitude. Somos todos iguais em nossa fragilidade intrínseca. Enxergar isso nos ajuda a viver em paz. Porque, no limite, a violência é um instrumento de AUTOPROTEÇÃO. E não existe proteção contra o fato extremo de que todos vamos morrer... então, a violência, ainda no limite, é INÚTIL...
A cortesia também faz parte da atitude franciscana de não-violência. A gentileza desarma os corações. Uma atitude de respeito para com a pessoa, os valores, a vulnerabilidade do outro instaura um ambiente de paz.
Por fim, é preciso estar preparado para sofrer, se o caminho da não-violência for escolhido. E não é o sofrimento pelo sofrimento. O sofrimento é incidental. É, digamos assim, uma conseqüência assumida, um preço eventual a ser pago, se for preciso, para conseguir a paz. Pode-se perder coisas quando se opta pela paz. Pode-se perder coisas materiais ou emocionais. Pode-se perder pessoas. Pode-se perder poder. Pode-se perder o controle da situação. Pode-se perder bens. Mas opta-se por isso, porque se sabe que, no processo, o ganho supera infinitamente as perdas.

Seguem alguns trechos muito interessantes do livro:

A não-violência é uma forma de vida para pessoas corajosas;
A não-violência busca acabar com a injustiça, não com as pessoas;
A não-violência aceita a violência, se necessário, mas nunca a inflige;
A não-violência aceita voluntariamente as conseqüências de seus atos;
A não-violência é um processo de aprendizado lento e requer paciência tanto consigo próprio como com os outros;
A não-violência requer a revelação honesta de nosso próprio eu a nós mesmos e ao outro;
A não-violência renuncia aos jogos de vítima/algoz, evitando o maniqueísmo e a satanização do outro;
A não-violência se baseia no diálogo, isto é, em acordos, não em suposições, pois muitos conflitos se originam de mal entendidos;
A não-violência reconhece que cada um de nós está numa viagem espiritual e que todas as nossas experiências nos ensinam e transformam, o que gera gratidão;
A não-violência zela para que o diálogo com o outro transcorra num clima não de ameaça, mas sim de conforto e segurança.

Quem tiver mais interesse no assunto, pode procurar a página eletrônica do Serviço Para a Não-violência Pace e Bene, indicado no livro: www.paceebene.org.
Grande beijo a todos.