quarta-feira, 23 de junho de 2010

Deixando o Gargano

O dia ontem foi praticamente perdido. Um frio absurdo, ventania descomunal, ressaca no mar, hora fantasma... parecia um pesadelo. É difícil chegar e sair de Vieste. Se fosse mais fácil, eu teria ido embora depois do almoço, quando percebi que a cidade não tinha mais nada pra dar.
Só que eu precisava esperar o horário do ônibus. Pretendia voltar pela SITA, que, como eu disse, tinha mais horários. Até tinha comprado, equivocadamente, um bilhete pela Ferrovie Del Gargano, mas tive que sair novamente do hotel, com aquele tufão lá fora, pra comprar o da SITA, pois aqui, como vocês sabem, a gente não pode pagar a passagem dentro do transporte. Lá fui eu.
Dei umas voltinhas pelo centro histórico e tal... mas meu humor já estava deteriorado. Nada mais poderia salvar Vieste. Comprei o bilhete, morrendo de raiva por ter gasto dinheiro à toa no outro, que eu não pude devolver.
Voltei, comi o que sobrou do dia... e vi que tinha uma coisa me incomodando no braço. Uma coceira danada. Olhei... tava cheio de bolinhas vermelhas. Hum... Primeiro achei que fosse alergia (eu tenho alergia a TUDO). Depois concluí que seria difícil, porque a coisa era muito localizada e eu não tinha feito nada naquela parte do corpo que não tivesse feito também nas outras. Deixei o tempo passar e vi que foi piorando, espalhando. Decidi ligar pro seguro. Eles atenderam e perguntaram onde eu estava, pra localizar um médico. Numa fração de segundo, eu pensei: “cara, não vai ter médico em Vieste por nada desse mundo! Vou indicar Foggia!”. E pedi que fosse localizado um profissional em Foggia. Como já era meia noite, eles ficaram de ligar no dia seguinte de manhã com a informação.
Resultado: eu tinha que estar em Foggia na próxima manhã. Procurei os horários de partida e só tinha uma opção que servia: o ônibus das 6:15 da manhã. Era nesse que eu ia. Botei o relógio pra despertar e fui dormir.
Acordei na hora marcada, me arrumei rápido e desci pra recepção, pois ainda precisava andar até o ponto de ônibus. Ninguém. Toquei aquela sinetinha que fica em cima do balcão. Ninguém. Toquei bem alto. Nada. Esmurrei a sinetinha. Um hóspede passou pela portaria e saiu pra rua. Pensei: “esse, eu acordei”. Mas, no balcão do hotel, nada ainda. Comecei a passear pelo andar inteiro, gritando “Buon giorno!!!”. Veio um sujeito com uma tremenda cara de sono, sem a menor pressa e eu ali, toda estressada, já. Paguei a conta e perguntei onde era o ponto do ônibus. Ele me indicou o lugar. Lá fui eu.
Cheguei no ponto ainda faltando uns quinze minutos pra hora de saída. Rua totalmente deserta. Um vento horroroso, eu tava toda encapotada. Fiquei ali esperando, esperando... nem sinal de ônibus. Daqui a pouco passa uma senhora e fala assim: “O ônibus não passa mais por aqui não! Você tem que ir pra tal lugar”. Perguntei: “É longe?”. Ela disse “Não, só uns dez minutinhos de caminhada”...
Olhei o relógio. Pensei :“F&%$#”. Faltavam dois minutos pro horário de saída. Procurei na minha pobre memória os lugares onde tinha visto ponto de ônibus, pra me dirigir àquele mais próximo. Lembrei que na praia tinha e saí correndo, eu e a mala. Por que sempre tem que acontecer esses episódios loucos comigo? Por que as coisas não podem ser normais?
Bem, pelo menos, eu consegui chegar. Como ele passava onde eu estava um pouco depois da partida, deu tempo. Esperei uns dois minutos e vi surgindo lá atrás na curva o lindo ônibus azulzinho que me levaria a Foggia.
Ele parou, eu ia subir. O motorista, com aquela simpatia que vocês já podem imaginar, nem esperou eu me mexer e foi perguntando: “Você tem o bilhete da Ferrovie Del Gargano?”. Lembrei do bilhete inútil. Respondi, triunfante: “Sim” – e ele me abriu as portas do paraíso...
Agora, eu pergunto ainda: POR QUE eles divulgam que o trajeto naquele horário é feito pela SITA e botam um ônibus da outra empresa, que não aceita o bilhete da anterior e nem vende o deles próprios?????????????? Bem. Siamo in Itália. É só o que posso dizer.
Agradeci mil vezes a Deus por estar deixando Vieste. Cheguei em Foggia morrendo de sono, mas feliz. Infelizmente (ou não...), mesmo aqui, o seguro não achou nenhum médico disponível pra me atender hoje. Decidi então ir pra Roma, onde a assistência é melhor e onde, também, eu poderia encontrar minha irmã. Agora to no trem, deixando o Gargano. Ainda meio traumatizada com esta etapa da viagem. Mas acho que vai passar. Daqui a um tempo, eu vou rir disso tudo e lembrar só do lindo Adriático visto do alto de Montesantangelo.

2 comentários:

  1. ai querida... q confusão... miga, confesso q vc foi tão sarcástica narrando a cena de vc correndo c a mala no meio do tufão q na hora eu até sei uma risada de angustia , aqui.tragédia total.. fácil pra mim rir daqui... q perrengue, querida. pena eu nao estar aí pra te ajudar... Sigo impressionada c a sua coragem...
    beijuss

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  2. Megs, foi muito comedia! Agora dá vontade de rir! Mas, na hora, de chorar!!!

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