sexta-feira, 2 de julho de 2010

Assis, o blog e a limitação das palavras

Assis é indescritível. Tenho tentado demonstrar o que vejo e sinto aqui, mas as palavras são absolutamente insuficientes. Talvez não seja assim com todo mundo, talvez muita gente venha aqui só por turismo, ou a passeio, ou por curiosidade, ou mesmo por fé – e reconheço que cada um tem sua experiência e que cada uma delas tem valor próprio. A minha é sempre, como já disse, inesperada e perfeita. Exatamente aquilo de que eu precisava naquele momento.
Assis é um jeito naive de estar no mundo. Algo que se perdeu, ou nunca chegou a se consolidar, porque viver dessa forma exige coragem. É difícil ser... natural. Temos medo. A naturalidade, no limite, é, também (mas não só), fragilidade. E nossa cultura nos treina/seduz com a idéia de segurança. Assis desafia as seguranças.
Estou na estação de trem, deixando a cidade. Ganhei um monte de coisas aqui, como sempre. Mas as palavras são sempre deficientes para expressar o que realmente importa.
Por causa disso, deixo com vocês um episódio, tão naive quanto eloqüente, sobre o que estou sentindo. É uma tradução minha, da edição italiana, de um capítulo do “Fioretti” de São Francisco de Assis.

“De como São Luís, rei da França, visitou Frei Egídeo.

Caminhando São Luís, rei da França, em peregrinação, a visitar os santuários pelo mundo, e sabendo da grande fama de santidade de frei Egídeo, o qual era um dos primeiros companheiros de São Francisco, decidiu em seu coração visitá-lo. Por isso, foi a Peruggia, onde morava então o frade, e chegando à porta do convento como um pobre peregrino desconhecido, com poucos companheiros, pedia com grande insistência para falar com Egideo, nada dizendo ao frade que atendia à porta sobre sua identidade.
O porteiro então disse ao frei que um peregrino o chamava à porta. E Deus revelou a Egideo que o peregrino era o rei da França. Subitamente, com grade fervor ele desce de sua cela e corre à porta e, sem que ninguém dissesse nada, ambos os santos, que nunca se haviam visto, ajoelharam-se e abraçaram-se, como se há muito tempo fossem grandes amigos. E nada falaram um ao outro, mas permaneceram abraçados em silêncio. Ficaram assim durante muito tempo, até que, ainda sem uma palavra, se separaram. E São Luís continuou sua viagem e frei Egideo retornou à sua cela.
Quando o rei partiu, um dos frades perguntou a outro quem era aquele a quem havia abraçado frei Egideo e ele lhe respondeu que era Luís, o rei da França, que tinha vindo ver o frade. Sentindo-se tristes porque frei Egideo não dirigira sequer uma palavra ao rei, que viera de tão longe para vê-lo, os frades procuraram Egideo para repreendê-lo. Mas ele respondeu:
Caríssimos frades, não fiquem surpresos com isso, porque nem eu nem ele poderíamos trocar palavras, mas, da forma como nos abraçamos, a luz da divina sabedoria revelou e manifestou a mim o seu coração e, a ele, o meu; e assim, por obra divina, aquilo que eu gostaria de dizer a ele e ele a mim, foi muito melhor expressado do que se nós houvéssemos falado com a boca – e com maior consolação. E se quiséssemos explicar com a voz aquilo que sentíamos no coração, devido à deficiência da língua humana, que não pode exprimir claramente os mistérios secretos de Deus, sentiríamos tristeza e não alegria. No entanto, podem acreditar: o rei partiu daqui maravilhosamente consolado”.
Sem palavras.
Fiquem com Deus.

Nenhum comentário:

Postar um comentário